Monday, January 12, 2009

CRISTOLOGIA

Quem era Jesus ?

Trabalho apresentado segundo as exigências do Curso de Teologia Catequética para leigos e religiosos, Pós-graduação Lato Sensu para portadores de diploma superior, sob as orientações dos Padre Manzato e Fernando.

CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSUNÇÃO - UNIFAI
VILA MARIANA - SP - 2004 - 1° SEMESTRE
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

O Valor de uma pessoa que realizou a finalidade da criação

I) Quem era Jesus ?

1)O Adão aperfeiçoado e Jesus como a restauração da Árvore da Vida
2) Jesus e os homens que alcançaram a finalidade da criação
3) Jesus é o Próprio Deus?
4) Qual era a relação entre Jesus e Deus?

II) A Finalidade da vinda de Jesus como o Messias

1) Qual tipo de Reino Jesus anunciou?
2) O que é Reino de Deus?
3) A Vinda do Reino de Deus não é apocalíptica
4) O Reino de Deus não é exclusivamente espiritual
5) A Morte de Jesus na Cruz
6) A Ressurreição de Jesus


CONCLUSÃO


INTRODUÇÃO

A Cristologia trata da significação da pessoa e do trabalho de Jesus Cristo, os cristãos acreditam que Jesus de Nazaré é o Cristo. Cristo é uma palavra grega que significa Messias, em hebraico significa ungido ou escolhido para ser rei no antigo testamento. O povo de Israel acreditava que Deus enviaria um rei ou Messias para salvá-lo. Então, a Cristologia tem duas partes, a primeira explica quem era Jesus, e a segunda a finalidade para qual ele veio e sua missão como Messias.

A finalidade da vinda de Jesus como Messias era realizar a salvação. Devemos entender porque o homem necessita de salvação, e o que é salvação? A salvação se tornou necessária por causa da queda humana. Então devemos compreender: o que aconteceu na queda humana? Por que Adão e Eva caíram? O que foi o pecado dos primeiros antepassados humanos?

A "Queda" significa que o plano original da criação de Deus não foi realizado, então devemos primeiro elucidar qual é a finalidade da criação e o significado da vida. Por que Deus nos criou? Devemos conhecer o valor do homem original recebido na criação.


O Valor de uma Pessoa que Realizou a Finalidade da Criação

Vamos examinar o valor de Adão aperfeiçoado, caso ele não tivesse caído[1].
Qual seria a relação entre Deus e o Adão aperfeiçoado?
Se Adão tivesse alcançado o objetivo da criação sem cair, ele se tornaria o templo de Deus, segundo São Paulo: "Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (I Cor 3. 16). Jesus falou deste estado de perfeição, dizendo: "Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste." (Mt 5. 48)
Neste sentido podemos ver que uma pessoa que realizou a finalidade da criação adquire um valor divino semelhante ao de Deus.

I) Quem era Jesus?

A história humana pode ser encarada sob o ponto de vista da salvação e da providência da restauração do que foi perdido no momento da queda no Jardim do Éden e o objetivo é a realização do Reino do Céu na terra[2].

1)O Adão aperfeiçoado e Jesus como a Restauração da Árvore da Vida

A Árvore da Vida que foi perdida no Jardim do Éden[3] será restaurada nos Últimos Dias[4]. Podemos conhecer o relacionamento entre Jesus e Adão aperfeiçoado compreendendo o relacionamento entre a Árvore da Vida do Jardim do Éden[5] e a Árvore da Vida que deve ser restaurada no fim dos tempos[6].

Se Adão tivesse chegado a atingir o ideal da criação, ele teria se tornado a Árvore da Vida (Gn 2.9). Contudo Adão caiu e foi expulso do Jardim do Éden (Gn 3.24) sem atingir a Árvore da Vida, e a partir de então tem sido a esperança dos homens decaídos restaurar-se à esta Árvore da Vida (Pv 13.12, Ap 22.14).

Visto que o homem decaído jamais pode restaurar-se como Árvore da Vida por seu próprio poder, é necessário que um homem que tenha completado o ideal da criação venha como uma árvore de vida e enxerte em si todas as pessoas. Jesus é esta árvore da vida mencionado na Bíblia no Livro do Apocalipse.

Por isso Adão aperfeiçoado, simbolizado pela Árvore da Vida no Jardim do Éden, e Jesus, que é também comparado com a Árvore da Vida no Apocalipse, são idênticos, do ponto de vista de que são homens que atingiram o ideal da criação.
Por isso, São Paulo chamou Jesus Cristo de "ultimo Adão"[7] que deve vir de novo à Terra como a Árvore da vida nos Últimos Dias.

2) Jesus e os Homens que Alcançaram a Finalidade da Criação

São Paulo escreveu em I Timóteo 2. 5: "Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os Homens, o homem Jesus Cristo".
E em Romanos 5. 19: "Porque, como pela desobediência de um só homem [Adão], muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só homem [Jesus], muitos se tornarão justos".
E também I Coríntios 15. 21: "Visto que a morte veio por um homem [Adão], também por um homem [Jesus] veio a ressurreição dos mortos”.

A Bíblia disse também em Atos 17. 31, no discurso de São Paulo em Atenas: "Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um homem que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos."
Por maior que seja o valor de Jesus, ele não pôde assumir um valor maior do que o de um homem que atingiu a finalidade da criação. Por isso, não podemos negar que Jesus foi um homem que alcançou a finalidade da criação.

Como já foi comentado, os homens devem ser perfeitos como Deus é perfeito e Jesus é verdadeiramente um homem aperfeiçoado, tão valioso que possui deidade, um valor único, senhor de toda a criação e é um só corpo com Deus[8].

3) Jesus é o Próprio Deus?

Quando Filipe pediu a Jesus que lhe mostrasse o Pai [Deus], Jesus disse-lhe: "Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?. (Jo 14. 9,10) Também diz a Bíblia: "O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu”.(Jo 1. 10)
Jesus também disse: "Em verdade, eu vos digo: antes que Abraão existisse, Eu sou" . (Jo 8. 58)

Baseados nestes versículos, muitos cristãos acreditam que Jesus é o próprio Deus, o Criador[9].

É verdade que aquele que vê Jesus, vê Deus; mas ele não disse que era o próprio Deus, Jesus, sendo um só corpo com Deus, pode ser chamado de segundo Deus ou imagem de Deus, mas não pode ser o próprio Deus.

Está escrito que Jesus é o Verbo feito carne, ou seja encarnação da "Palavra". Esta escrito também que todas as coisas foram feitas através dele. Baseada nessas citações Jesus vem sendo chamado de Criador.

Segundo o Princípio da Criação, o universo criado é o desenvolvimento substancial da natureza interna e da forma externa de um ser humano de caráter perfeito. Jesus com um homem que cumpriu a finalidade da criação está na posição de ter restaurado todas as coisas, estes versículos de São João não significam que Jesus era o próprio criador[10].

Como Jesus pode dizer: "Antes que Abraão existisse, eu sou", Jesus era descendente de Abraão, mas em relação à providência da restauração, ele dá renascimento a toda a humanidade, ele veio como o novo antepassado de todos incluindo Abraão. Jesus, na Terra, não foi um homem diferente de nós, externamente, exceto pelo fato de ser sem pecado original[11].

Em Romanos 8. 34 está escrito que Jesus intercede por nós, se ele fosse o próprio Deus, como poderia interceder por nós perante si mesmo? Além disso ele chamava Deus "Pai", reconhecendo assim que ele não era o próprio Deus[12]. Se Jesus fosse o próprio Deus, como poderia ser tentado por Satanás? Finalmente quando lemos as palavras que ele disse na cruz: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27. 46) fica bem claro que Jesus não é o próprio Deus.

4) Qual era a relação entre Jesus e Deus?

A primeira comunidade cristã era composta de judeus que aceitaram Jesus como o Messias de Israel, eles nunca pensaram que Jesus era Deus. Eles entenderam o conceito de "Filho de Deus", no sentido de um relacionamento intimo entre Jesus com seu Pai celestial[13]. A nação de Israel era chamada "meu filho" por Deus[14]. O rei Davi também[15].

Para os primeiros cristãos, Jesus não era Filho de Deus porque seu nascimento era um "milagre", mas porque ele foi especialmente eleito desde o batismo, o Espírito Santo desceu sobre ele e que Deus declarou, como no tempo de Davi: "Tu és meu Filho". (Sl 2. 7).
O título de "Filho de Deus" era equivalente a Messias, que não era suposta a ser uma personalidade sobrenatural, mas simplesmente um homem escolhido por Deus e dotado por Ele de um poder particular[16].

Então, como apareceu a crença da concepção virginal de Jesus? Como foi a mudança de conceito de Jesus eleito ao conceito de Jesus concebido Filho de Deus? Esta crença não está mencionada nas cartas de São Paulo, os mais antigos textos do Novo testamento. Está escrito assim: "com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade..." (Ro 1. 3,4) A conceição virginal de Jesus não aparece também no evangelho de São Marco, o mais antigo dos quatro, nem no evangelho de São João. Há possibilidade que está crença foi introduzida mais tarde nos evangelhos de Mateus e Lucas segundo Boers[17]. A idéia da conceição milagrosa está presente em outras fontes pagãs, judias e nos manuscritos do Mar Morto, na antigüidade grega egipciana e romana a paternidade divina era atribuída para os grandes personagens da história. Naturalmente, a expressão Filho de Deus perdeu o sentido judeu de "abençoado por Deus" e se tornou sinônimo de "concebido diretamente por Deus", então a partir de "Filho de Deus", Jesus se tornou "Deus o Filho", a segunda pessoa da Santa Trindade, preexistente eternamente na criação[18].


II) A Finalidade da vinda de Jesus como Messias


1) Qual tipo de Reino Jesus anunciou?

Na época de Jesus todo o povo Judeu esperava o Reino de Deus, eles
Recitavam uma oração semelhante ao “Pai nosso”: “venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu.” (Mt 6. 10, Lc 11. 2)
Se Deus é o Alfa, então o Reino de Deus, o cumprimento final de Sua vontade criadora, é o Omega[19].
O objetivo principal da pregação de Jesus era de exortar o povo a se arrepender e preparar a chegada do Reino dos céus[20].



2) O que é o Reino de Deus?

A expressão “Reino de Deus” que Jesus usou significa a “autoridade do
império de Deus”[21], mas poderíamos traduzi-la como a “lei divina” ou “teocracia”, Mateus preferiu utilizar a expressão “Reino dos Céus” seguindo o costume Judaico de não pronunciar o nome de Deus, palavra muito sagrada que não poder ser proferida[22] .
Há dois conceitos de Reino de Deus, o primeiro é a visão profética na esperança de uma nação regenerada e politicamente libertada para um rei escolhido pelo Espírito de Deus, é o tipo messiânico. O segundo é a transformação sobrenatural do mundo e o julgamento de Deus salvando os bons e castigando os maus, é o tipo apocalíptico.

As duas esperanças são encontradas juntas nas escrituras, como nos livros dos Salmos e de Enoquio, as esperanças de um rei vitorioso sobre as nações inimigas eram a destruição e a regeneração sobrenatural do mundo.
Jesus seguiu a linha dos profetas reformadores como Isaías e Zacarias que anunciaram a esperança do Messias e o ideal do Reino de Deus de uma maneira pacifista quando todas as nações “converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras” (Is 2. 4) e universalista proclamando que Deus é “O Senhor de toda a terra”.(Zc 4. 14)
A visão de Jesus era de estabelecer o Reino de Deus na Terra, começando à partir da nação de Israel e a fórmula que Jesus revelou era a prática e a ética dos ensinamentos do Sermão da Montanha[23].

Jesus não rejeitou a sucessão do rei Davi, que era um aspecto essencial das mensagens dos profetas da esperança messiânica popular da época, ele não negou o título de rei dos judeus que a multidão clamou: “Bendito é o rei que vem em nome do Senhor!” (Lc 19. 38, Mc 11. 10) ou quando ele foi interrogado por Pilato: ”És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: tu o dizes.” (Lc 23. 3)

3) A Vinda do Reino de Deus não é apocalíptica

A visão apocalíptica do Filho do Homem chegando nas nuvens
encontrada no capítulo 13 de São Marco[24] vem dos livros de Daniel, Isaías e Ezequiel. Segundo os especialistas isso não era ensinamento de Jesus, mas teria sido introduzido pelos discípulos devido a influência de João Batista. Essas imagens foram repetidas em vários textos cristãos: At 2. 19, 20; 2Th 1. 7; 2 Pe 3, 7; Ap 1. 7 e 8, 10, 12, mas não são palavras de Jesus.
Essas orientações apocalípticas da fé cristã se afirmaram na Igreja depois da morte de Jesus, enquanto os discípulos tinham de escolher uma das duas opções: desistir da esperança que Jesus ensinou, da realização próxima do Reino de Deus através da conversão do povo de Israel, ou reinterpretar esta esperança de uma maneira apocalíptica[25].

O Reino de Deus de Jesus não é compatível como a visão apocalíptica: “Não vem o reino de Deus com visível aparência... Porque o reino de Deus está dentro de vós.” (Lc 17. 20, 21) Aqueles que entrarão no reino dos céus são aqueles que fazem a vontade do pai[26], eles são semelhantes a uma semente ou ao fermento[27], eles devem encarnar-se sobre a Terra através da prática do amor altruísta e sacrifical capaz de abraçar o inimigo e brotar no coração dos homens para se realizar na sociedade.

4) O Reino de Deus não é exclusivamente espiritual

Além da visão apocalíptica, os discípulos começaram a pregar a
“espiritualização” ou desencarnação do Reino de Deus como as conseqüências das seguintes novas situações:
1. A expansão da fé cristã nas regiões helenísticas com a crença espiritualista desprezando o mundo terreno.
2. A volta gloriosa do Cristo ressuscitado não aconteceu, uma nova
interpretação do Reino de Deus na terra era necessária.
3. A preocupação dos cristãos de não se envolverem com o messianismo
nacionalista judeu e não receber oposição do Império Romano.
Por todas essas razões, a Igreja passou a minimizar a função terrena do
Reino de Deus prometido por Jesus. Paulo interpretou a mensagem de Jesus apontando a transformar o mundo através o amor de Deus, em uma nova religião enfatizando a salvação individual baseado na crença em vez de praticar o amor ao próximo: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.”(Ro 10. 9)
No entanto, colocando a palavra “Meu Reino não é deste mundo” na boca de Jesus, o quarto evangelho encerrou o processo de “espiritualização” do Reino de Deus, fazendo o orgulho do cristianismo perante o judaísmo julgado “carnal” demais. Assim que nós sempre ouvimos repetir que Jesus era o gênio que deu a noção terrena do Reino de Deus, uma significação unicamente espiritual fora deste mundo. Não tem nada de mais errado[28]. Na continuação do fundamento do Antigo Testamento, Jesus queria o Reino de Deus como uma realidade encarnada na vida social, e no nível nacional e até expandir no nível mundial.
Na verdade, Jesus pregou primeiro o Reino interno do coração, mas é claro que este Reino interno devia ter influência na vida social, nacional e política.

5) A Morte de Jesus na Cruz

Será que a morte de Jesus na cruz correspondeu ao desejo mais profundo da Vontade de Deus?

1 - Vamos examinar as palavras de Estevão em Atos 7. 52, ele sentiu
uma grande indignação contra a ignorância e descrença do povo que causou a crucifixão de Jesus, ele chamou aqueles que mataram Jesus, de traidores e assassinos. Se a morte de Jesus tivesse sido um resultado da predestinação de Deus, não haveria motivo para Estevão ficar tão bravo, indignado e ressentido, mas deveria ter se sentido grato pelo cumprimento da Vontade de Deus.

2 - Vejamos do ponto de vista da Providência de Deus se a crucifixão
de Jesus era inevitável como a predestinação de Sua Vontade.
Deus escolheu o povo de Israel, descendentes de Abraão, mandou os profetas que prometiam a vinda do Messias, Ele preparou-os através da construção do Tabernáculo e do Templo, Ele enviou os magos do oriente; Simeão, Ana e João Batista testemunharam o nascimento e a vinda do Messias. O propósito de Deus em enviar uma personalidade de alto escalão como João Batista, os milagres que aconteceram no seu nascimento criando uma grande expectativa[29], foram para encorajar e levar o povo judeu a acreditar em Jesus como Messias.

Se eles tivessem acreditado em Jesus como Messias como, poderiam eles tê-lo crucificado depois de esperar por ele por tanto tempo? Os Israelitas crucificaram Jesus porque, contra a Vontade de Deus, não acreditaram que Jesus era o Messias. Neste sentido, podemos compreender que Jesus não veio para morrer na cruz.

3 - Vamos analisar as palavras e ações de Jesus para ver se a crucifixão
era o meio de realizar sua missão de Messias. Quando as pessoas lhe perguntaram o que devia fazer para realizar a obra de Deus, Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.” (Jo 6. 29)

Jesus chorou à vista de Jerusalém devido à descrença dos fariseus, ele
indicou claramente a ignorância do povo da cidade: “...porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação.”(Lc 19. 44) Em outra ocasião: “Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!...” (Mt 23. 37)

Jesus censurou o povo que se recusou a acreditar nele, mesmo quando as escrituras davam testemunho sobre ele: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.”(Jo 5. 39) “Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis...” (Jo 5. 43), “Porque, se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito.” (Jo 5. 46)

Jesus realizou muitos milagres e sinais na esperança de que pudesse crer nele. Contudo, eles o condenaram como alguém que estava possuído por Belzebu. “...se não me credes, crede nas obras; para que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e eu estou no Pai.” (Jo 10. 38)

Jesus através de suas palavras e obras, tentou levar o povo a acreditar nele porque esta era a vontade de Deus. Se os judeus tivessem acreditado que ele era o Messias, o que tanto Deus e Jesus queriam, será que poderiam tê-lo crucificado?

Podemos ver que a crucifixão de Jesus foi o resultado da ignorância e descrença do povo judeu, e não da predestinação de Deus para realizar a finalidade de sua vinda como Messias. “...nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor de glória;(I Co 2. 8)

Se a crucifixão de Jesus originalmente tivesse sido a predestinação de Deus como poderia ele ter orado, três vezes, para que o cálice da morte passasse dele?[30] Porque ele sabia muito bem que a história de aflição seria prolongada até a época do Senhor do Segundo Advento, se a descrença do povo viesse a impedir a realização do Reino do Céu na Terra.

Em Isaías diz 9. 6,7:

“Porque um menino nos nasceu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu
nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, pai da Eternidade, Príncipe da
Paz; para que aumente seu governo, e venha a paz sem fim sobre o trono de Davi e
sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde
agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.”

Esta é a predição de que Jesus viria sobre o trono de Davi e estabeleceria um reino eterno. Um anjo apareceu a Maria quando ela concebeu Jesus e disse:

“Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus.
Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, O Senhor, lhe dará o
trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu
reinado não terá fim. (Lc 1. 31-33)

Destas passagens podemos ver claramente que Deus tinha chamado os israelitas, o povo escolhido e os tinha conduzido por dois mil anos a fim de estabelecer um Reino de Deus na Terra mandando Jesus como Messias. Mas devido à incredulidade, foi crucificado. Desde então os judeus foram espalhados, sofrendo perseguições até o dia de hoje. Isto pode ser entendido como uma trágica conseqüência do erro ao condenar à morte o Messias. Também os cristãos tiveram de carregar a cruz pelo pecado coletivo da crucifixão de Jesus[31].

Porque a idéia da necessidade providencial da Cruz se tornou uma das bases da doutrina cristã? Foi um acontecimento inevitável, indispensável para a sobrevivência da Igreja. Nunca a igreja teria conseguido se desenvolver, nem resistir às perseguições judáicas e romanas, se fosse fundada na consciência uma falha do plano divino (em realidade uma falha da porção de responsabilidade humana que era de acreditar no Messias). Logo no início depois da morte do mestre, os discípulos estavam convencidos que foi a vontade de Deus e de Jesus. Assim Paulo acreditou: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (I Co 15. 3,4) A idéia da necessidade providencial da morte do Messias se formou no pensamento dos discípulos depois da crucifixão[32].

A passagem de Isaías 53. 5, reivindicada pelos cristãos como uma profecia da rejeição do Messias, sobre o servidor sofredor que foi escrita no passado, não era considerada como uma profecia na época de Jesus. Se Jesus estivesse convencido de que sua execução era a vontade de Deus, ele teria ido completamente sereno, não teria tido medo de arriscar a sua vida. A oração do jardim de Getsemani[33], não era a respeito de seu sofrimento mas era para consolar Deus e por ele ter pensado em todos os martírios que seguirão seu curso.


6) A Ressurreição de Jesus

Em Lucas 9. 60, encontramos dois conceitos de vida e morte, o primeiro
à respeito do corpo físico, que era o caso do pai do discípulo, que devia ser enterrado. O segundo é o conceito da vida e morte com respeito às pessoas que se reuniram para o enterro do pai, as quais Jesus indicou estarem mortas.
Quando Jesus disse: “...quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.” (Jo 11. 25) A declaração de Jesus neste caso é a indicação de que a morte física do homem não influencia sua vida eterna no mundo espiritual.

Nossa carne é como roupas para nosso espírito; e é natural que nós removemos a carne, quando está velha, como tiraríamos velhas roupas. Então os homens espirituais vão para o mundo invisível a fim de lá viverem para sempre[34].

Antigamente os Israelitas acreditaram na sobrevivência dos “mortos” ou a imortalidade da alma como a maioria dos povos, mas para combater o culto dos “mortos” a religião oficial de Israel chegou a negar a existência dos “mortos” então a crença na ressurreição dos mortos veio para substituir este vácuo eterno. Segundo o padre dominicano Marie-Emile Boismard Jesus negou esta crença analisando a resposta de Jesus para os Saduceus[35]. (Mc 12. 24-27)

Depois da Ressurreição, Jesus não era o mesmo que tinha vivido com seus discípulos antes da crucifixão. Ele já não era um homem visto com os olhos físicos, pois era um ser transcendente de tempo e espaço. Certa vez apareceu repentinamente em uma sala fechada, onde seus discípulos estavam reunidos (Jo 20. 19), em outra ocasião, apareceu diante de dois discípulos que se dirigiam para Emaús, o os acompanhou por uma longa distância. Mas seus olhos não podiam reconhecer Jesus, que apareceu diante deles. (Lc 24 15, 16)

Jesus que aparecia, também desaparecia subitamente.
Jesus disse: “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo 2. 19), Jesus ressuscitado iniciou um novo curso espiritual e se tornou o “novo templo” objeto de fé para os cristãos que se tornaram o segundo Israel.

Depois que João Batista se tornou cético e se afastou de Jesus, e que o povo que acreditava em João Batista, se viu obrigado a não crer em Jesus, Ele iniciou um jejum de quarenta dias no deserto para restaurar um novo fundamento de fé e para se separar de Satanás[36].

Jesus ressuscitado, também tinha que estabelecer um fundamento espiritual de 40 dias, reunindo seus discípulos, dispersos na Galiléia, e dando-lhes o poder de realizar milagres. (Mt 28. 16) Os apóstolos escolheram a Matias em lugar de Judas para completar o número 12, e creram, serviram e seguiram a Jesus ressuscitado, que se tornou Messias espiritual na posição de Verdadeiro Pai espiritual. Depois da Pentecostes (At 2. 1- 4), o Espírito Santo trabalhou como a Verdadeira Mãe espiritual e assim começando a obra de renascimento espiritual para os cristãos. Assim os corpos físicos dos crentes que seguem o Messias espiritual estão na mesma posição que o corpo físico de Jesus, invadido por Satanás através da cruz, então o pecado original ainda permanece em si (Rm 7. 25). Todos os cristãos têm que esperar pelo segundo advento do Senhor para resolver completamente a separação de Satanás.

Assim como Josué, que substituiu Moisés na restauração nacional de Canaã, o Senhor do Segundo Advento tem que realizar o Reino de Deus na Terra, realizando um curso substancial mundial de Canaã[37].



CONCLUSÃO


A tradição cristã elevou Jesus na posição de sobre-homem, ser sobrenatural e mais tarde se tornou da mesma natureza que Deus. A metamorfose de Jesus, de Messias terreno em enviado celestial foi acrescentada pelo quarto evangelista, usando a palavra ambígua “Filho do Homem” enviado celestial aparecendo nas nuvens inspirada da leitura literal de Daniel 7. 13.
Segundo o Pe Dominicano Refoulé que comentou sobre uma passagem do livro de Daniel Marguerat Jesus desejava reformar Israel, ele não queria fundar uma Igreja[38]. Hans Kung escreveu no seu livro “Ser cristão” :”Não tem dúvida, na perspectiva do Reino de Deus, Jesus não pensou a fundar uma comunidade diferente de Israel. Quando era vivo ele não fundou uma Igreja”[39]. Até pouco tempo atrás, nenhum exegeta católico teria atrevido mencionar a famosa fórmula de Loisy que ele escreveu em 1907: “Jesus anunciou o reino e é a Igreja que chegou”[40].

NOTAS:
[1] MOON, S. M. "Princípio Divino" p. 154

[2] Op. Cit., p. 155

[3] Gn 3.24

[4] Ap 22.14

[5] Gn 2.9

[6] Ap 22.14

[7] I Co 15.45

[8] MOON, S. M. Ibidem., p. 156

[9] MOON, S. M. Ibidem, p. 157

[10] Idem, p. 157

[11] Idem, p. 158

[12] Jo 17. 1

[13] GUYÉNOT, L. "Le Roi sans Prophète" p. 41

[14] Ex 4. 22; Os. 11. 1

[15] 2 Sm 7. 14; Sl 2. 7

[16] GUYÉNOT, L. Op. Cit., p. 43

[17] Idem, p. 44

[18] Idem, p. 45

[19] SOBRINO, J., “Jesus e o Reino de Deus”. p. 137

[20] Mt 4. 17

[21] FUNK, R., “The Five Gospels: The search for the Authentics Words of Jesus”. Tradução de: God’s Imperial rule.

[22] GUYENOT, L. Idem, p. 55

[23] Idem, p. 58

[24] Mc 13. 26

[25] Idem, p. 63

[26] Mt 7, 21

[27] Mt 13. 31, 33

[28] GUYENOT, L. Idem p. 67

[29] Lc 1. 13; 63 - 66

[30] Mt 26. 39

[31] MOON, Idem p. 112

[32] GUYENOT, idem p. 72

[33] Mc 14. 36

[34] MOON, idem p. 127

[35] BOISMARD, M.-E., “Faut-il encore parler de résurrection?”

[36] Idem p. 258

[37] MOON, S. M. Idem p. 268

[38] REFOULE, F. “Jesus dans l’Exegèse Moderne » ARM p. 42

[39] KUNG, H. “Être chrétien”

[40] LOISY, A. “Lês Evangiles synoptique


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOERS, Hendrikus. Who was Jesus? The Historical Jesus and the
Synoptic Gospel - Harper & Row - New-York - 1989

BOISMARD, Marie-Emile. Faut-il encore parler de «résurrection» ?
Le Cerf - Paris - 1995

FERREIRA DE ALMEIDA, João. A Bíblia Sagrada - Sociedade
Bíblica do Brasil - São Paulo - 1993

FUNK, Robert and the JESUS SEMINAR. The Five Gospels: The
search for the Authentics Words of Jesus – Macmillan – New
York - 1993

GUYÉNOT, Laurent. Le Roi sans Prophète - Editions Pierre d'Angle -
Paris - 1996

KUNG, Hans. Être chrétien – Seuil – Paris – 1974

LOISY, Alfred. Les Evangiles synoptiques – Paris - 1907

MOON, Sun Myung. Princípios Divinos - AESUCM - São Paulo –
1997

REFOULE, François. Jesus dans l’Exégèse Moderne – L’Actualité
Religieuse dans le Monde – Hors-série N°4 – Paris - 1994

SOBRINO, Jon. Jesus em América Latina - Le Cerf - Paris - 1986

No comments:

Post a Comment