Saturday, January 3, 2009

RELIGÃO E FILOSOFIA

INTRODUÇÃO A FILOSOFIA

O PROBLEMA RELIGIOSO


Trabalho apresentado segundo as exigências da disciplina de Introdução à Filosofia, do curso de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Lola Ndofusu.


FACULDADE EVANGÉLICA DE TEOLOGIA
SEMINÁRIO UNIDO - OSWALDO CRUZ - RJ- 2003


SUMÁRIO


INTRODUÇÃO

1. Uma fronteira imprecisa
1.1- Onde acaba a filosofia? Onde começa a religião? 1.2- O cristianismo não é a religião por excelência?

2. As principais etapas do relacionamento entre a filosofia e a
teologia
2.1 - Encontro com a filosofia grega
2.2 - Harmonização entre teologia e filosofia
2.3 - A primeira modernidade
2.4- "Visão da vida de tipo Caim"
2.4.1 - O racionalismo de Descartes
2.4.2 - O empirismo de Francis Bacon
2.4.3 - O deísmo de Edward Herbert
2.4.4 - O idealismo de Hegel
2.4.5 - O materialismo de Karl Marx
2.5 - "Visão da vida de tipo Abel"
2.5.1 - A filisofia crítica de Kant
2.5.2 - O pietismo de Philipp Spener
2.5.3 - Os "Quakers" de George Fox
2.5.4 - As revelações de Emanuel Swedenborg

CONCLUSÃO

INTRODUÇÃO

O problema religioso é um assunto difícil a tratar, para a maioria dos professores de filosofia ensinando nos colégios na França, a tendância é evitar a palavra "religião" e falar de mitos, o Ministério da Educação Nacional tirou essa palavra dos programas em 2000, e a matéria foi renomeada "mitos, ciências e filosofia"[1]. Inicialmente ligados, a filosofia e a religião dividiram-se desde Luther e Descartes, e tomaram campos opostos com o aparecimento do Iluminismo que tentou atacar e negar o pensamento religioso. Hoje, em dia uma linha intermediária está aparecendo que diz que a filosofia e o discurso religioso não precisam ter oposições entre si, mas de comunicar entre si. Os filósofos estão olhando de um ponto de vista novo o discurso religioso, não como uma sobrevivência de "uma idade mítica", infraracional, mas como algo de sério, profundo e interessante. As religiões são vistas como um patrimônio que moldou as mentalidades, e a falta de analisá-las, é um risco de entender nada sobre o presente[2].


1. Uma fronteira imprecisa

1.1- Onde acaba a filosofia? Onde começa a religião?

A filosofia é a busca da verdade usando o raciocíno e não qualquer revelação. Um pensador da Idade Media, Boèce de Dacie diferencia a filosofia, baseada nas provas e a fé baseada nos milagres. Um teólogo católico, o padre Joseph Moingt disse: "A filosofia moderna é baseada na critíca, que nega a receber uma verdade por uma simples submissão a uma autoridade ou tradição."[3]
Para um especialista da Antigüidade, Pierre Hadot, no início, filosofar era "vivenciar conforme a Razão". O propósito era o progresso da alma através de "exercícios espirituais" e praticar o exame de consciência para ver aonde a pessoa está na aplicação dos princípios.[4]
Muitas pessoas acreditam que o budismo não é uma religião, mas uma filosofia que presenta analogias com a conceição grega de viver. Não há o conceito de Deus Criador, providência divina, redenção e graça.[5]

1.2 - O cristianismo não é a religião por excelência ?

O cristianismo foi nomeada religião pela primeira vez no final do segundo secúlo pelo o escritor Tertullien. Era conhecido como uma filosofia, ou seja um fenômeno de cultura grega, chamado de FILOSOFIA em letras maiúsculas.[6] A pregação cristã começou nas sinagogas, seguindo o mesmo formato da liturgia: leitura da Torah, depois o livro dos profetas, e o sermão. No primeiro secúlo da diáspora a filosofia grega teve a mesma função que o papel dos Profetas no sistema da proclamação palestiniana. O melhor exemplo da ligação entre a mensagem biblíca e o pensamento grego é do Philon de Alexandria, representando o "judaismo helenístico", conhecendo perfeitamente a Torah, mas impregnado de filosofia platoniciana e estoiciana. O logos representam ao mesmo tempo a Palavra criadora de Deus do livro de Gênesis e "força racional", imanenta ao mundo e a cada homen como no estoicismo. No evangelho de João, o logos divino toma uma forma humana, os padres da Igreja fizeram do cristianismo a "filosofia verdadeira" superior a todas as outras.[7]
A filosofia ficou na posição de servo simbolizada por Agar, a escrava de Abraão, segundo o judeu Philon. Em 529, o imperador Justiniano fechou a escola de Atenas, e ficou difícil de continuar a filosofar fora do regime cristão. Foi necessário esperar até o secúlo XII para que a filosofia encontre uma autonomia.[8]
A Europa está devendo algo essencial ao islamismo: a Razão. Graça às traduções que foram feitas dos cientistas árabes, na cidade de Tolede. Em 1150, uma grande parte dos conhecimentos que permitiram a universidade medieval de existir. Muitas obras de Aristóteles chegaram no mundo latino graças aos Árabes que foram tradutores e comentatores. Dois foram muito importantes: Avicenne (980-1037) originário do Iran e Averroès - nome verdadeiro - Ibn Rusch (1126-1198) de Cordoue, apelidado o comentador de Aristóteles.[9] A grande idéia dele ...A filosofia deve ser livre, então multiplica, porque não é possível obrigar o raciocínio.


2. As principais etapas do relacionamento entre a filosofia e a teologia

2.1 - Encontro com a filosofia grega

"Filosofia" e "teologia" são duas palavras gregas, foi Platão quem inventou a palavra "teologia" na República quando ele se perguntou a partir de qual modelo produzir um discurso sobre os deuses, então o ato teológico nasceu dentro de um mundo filosófico. Mas, quando a tradição cristã encontra a cultura grega, ela rejeita no início a palavra "teologia" porque ela inclui as crenças e os discursos dos pagaõs. Para os primeiros pensadores cristãos, o Cristo cumpre o desejo de sabedoria e de verdade dos gregos. Com Justino, Orígenes e Agostinho, "a verdadeira filosofia, é o cristianismo"[10].

2.2- Harmonização entre teologia e filosofia

Na época medieval, Tomás de Aquino foi o mais poderoso artesão harmonizando o relacionamento entre a teologia e a religião.
Segundo o sistema tomista, a razão e a revelação, a filosofia e a teologia, não podem hostilizar-se mutuamente, estar em desarmonia, enquanto procedem da mesma Verdade eterna. Pelo contrário, há algumas determinadas relações recíprocas.[11]

2.3- A primeira modernidade

Para Descartes, a verdade da filosofia, conquistada pela razão metódica, é uma verdade certa, enquanto a verdade recebida através da teologia é uma verdade que nós cremos. Ele institui uma distinção bem clara entre o saber e o crer. De outro lado, Lutero considera que o discurso filosófico dentro da teologia é quase blasfematório. Para ele, a pesquisa teológica da verdade deve usar apenas os comentários das Escrituras. A separação entre filosofia e teologia é a "primeira modernidade", quebrando a harmonia estabelecida pela teologia medieval.[12]

2.4- Visão da vida de tipo Caim

Para Lessing, filósofo alemão precursor do iluminismo, só a filosofia pode esclarecer o que a teologia pretendia revelar. A palavra "iluminismo" deriva-lhe do seu intento de iluminar o povo mediante a razão, contra o obscurantismo da história, da tradição, da sociedade política e religiosa. As fontes principais do iluminismo encontram-se na filosofia crítica do "racionalismo", pelo método dedutivo e na filosofia simplista do "empirismo", pelo método indutivo.[13]

2.4.1 - O racionalismo, cujo pai foi Descartes (1596-1650), da França, mantinha que todas as verdades podiam ser investigadas apenas pela "razão", com a qual o homem se acha dotado desde o momento de seu nascimento. O racionalismo rompeu a tradição histórica e estabeleceu a proposição de "Penso, logo existo", pelo método dedutivo. Partindo disto, os racionalistas se propunham afirmar sobre o mundo externo. Em conseqüência, procuraram negar a Deus, ao mundo e até a si mesmos.[14]

2.4.2 - O empirismo, cujo pai foi Francis Bacon (1561-1626), da Inglaterra, afirmava que todas as verdades podiam ser investigadas somente pela experiência. O empirismo ensinava que a mente humana devia afastar-se de toda e qualquer preocupação e só podia vir a compreender qualquer verdade nova mediante a experiência e a observação. Assim, a ideologia racionalista, que valorizava a razão humana independente de Deus, e a ideologia realista centralizada no homem, enquanto baseadas na experiência, rejeitavam ambas o misticismo e as visões. Racionalizando e enfocando apenas a vida humana, ambas separavam de Deus o homem e a natureza, e abria o caminho do lado satânico, seguindo apenas a orientação externa. Esta era a visão de tipo Caim, que rompeu a história e a tradição, passou a julgar todo o esforço humano pela razão e pelo realismo e negou a Deus. Este era o pensamento do Iluminismo.[15]

2.4.3 - O deísmo originado por Edward Herbert (1583-1648), na Ingleterra, procurava estabelecer uma teologia simplesmente sobre a base da razão. Os deístas limitavam sua visão de Deus ao significado de ter Ele criado o homem e o universo, e sustentavam que as revelações e milagres de Deus não eram necessários ao homem.

2.4.4 - A filosofia do idealismo compilada por Hegel (1770-1831), na Alemanha, influenciada pelo ateísmo e materialismo deu origem ao hegelianismo de esquerda. Os hegelianos esquerdistas transformaram sua lógica e sistematizaram a filosofia do materialismo dialético, que motivava o mundo comunista de hoje. D. F. Straus, escreveu em "A Biografia de Jesus", negando os milagres da Bíblia, enquanto Feuerbach (1804-1872), em sua "Essência do Cristianismo" argumentava que as condições sociais ou econômicas são a origem das religiões.

2.4.5 - Karl Marx (1818-1883) e Fiedrich Engels (1820-1895) influenciados por Straus e Feuerbach e pela ideologia socialista da França, combinaram o ateísmo com o materialismo e defenderem o materialismo dialético. Em seguida, a visão de tipo Caim amadureceu para formar o mundo comunista até o final do secúlo XX.[16]


2.5- Visão da vida de tipo Abel

Através deste movimento, filosofia e a religião vieram a estabelecer uma visão vertical da vida, em direção à natureza original do homem, dotada na criação; damos a isto o nome de visão da vida de tipo Abel.

2.5.1 - Kant (1724-1804), da Alemanha, introduziu a "filosofia crítica", assimilando o empirismo e o racionalismo, que estavam em conflito entre si. Ele analisou filosoficamente o desejo da natureza original do homem de buscar metas tanto internas como externas, explorando assim a visão da vida de tipo Abel de um ângulo filosófico. Kant derrubou a existente teoria do fac-símile, que dizia que a subjetividade é determinada pelo objeto, estabelecendo uma nova teoria, que a subjetividade determina o objeto.
Depois da teoria de Kant, apareceu Hegel, o idealismo dele formou a visão da vida de tipo Abel, no reino da filosofia.

2.5.2 - O pietismo, que se originou centralizado em Philipp Spener (1635-1705), na Alemanha, com uma forte tendência conservadora de seguir a fé ortodoxa, pondo ênfase em experiências místicas. Este movimento propagou-se na Ingleterra e, inspirando a conscipência religiosa do povo, deu origem ao metodismo.

2.5.3 - Na Ingleterra surgiram também os "Quakers", com o místico George Fox (1624-1690) como fundador. Afirmava que Cristo é a luz interior, e somente se experimentarmos a luz interior, recebermos o Espírito Santo e nos unirmos misticamente a Cristo é que poderemos conhecer o verdadeiro significado da Bíblia.

2.5.4 - Emanuel Swedenborg (1688-1772), o famoso cientista sueco,
revelou muitos segredos celestes, tendou seus olhos espirituais abertos. Permaneceu ignorado por muito tempo no mundo teológico, com o aumento da comunicação do homem com o mundo espiritual, seu valor está sendo gradualmente reconhecido. Desta maneira, a visão da vida de tipo Abel amdureceu para formar o mundo democrático de hoje.[17]


CONCLUSÃO

Hoje em dia, vários filosofos reabilitam a reflexão religiosa, tais como Luc Ferry que publicou "l'Homme-Dieu ou le sens de la vie" ou Regis Debray que publicou "Dieu, un itinéraire", apoiam a reconciliação entre a razão e a fé. Não é mais possível de erguer razão e fé um contra o outro e exilar todas as crenças no domínio do iracionalismo.
Não é mais possível ignorar o trabalho de pensamento das religiões, a nova disciplina científica, a filosofia da religião considera o fato religioso dentro de um conjunto como um fenômeno que ela quer render inteligível sem a priori. O filosofo da religião atesta que a religião é um fenômeno de humanidade e que cada religião tem sua inteligência própria. A filosofia da religião também atua como mediador no meio interreligioso cujo a necessidade é mas urgente a cada dia. Ela permite uma melhor compreensão e contribui a libertar a comunicação entre as religiões.[18]


NOTAS:
[1]TAGER, D. K. "Les Philisophes et la Religion". - Revista A.R. - p. 12
[2] GUETNY, J.P. "Les Philosophes et la Religião" Revista A.R. - p. 26
[3] Artigo "Réenchantement ou crépuscule du christianisme?" (Revista Esprit, fevereiro 1999) - Revista A.R.
p.14
[4] HADOT, P.- "Qu'est-ce que la philosophie antique?"- Revista AR p. 14
[5] "La philosophie du Bouddha" ( Ed. De la Sagesse, Lyon, 1995) - Revista A.R. - p. 15
[6] HADOT, P. Op. Cit., p. 15
[7] SACHOT, M. "Christianisme et Philosophie" (Pleins Feux, 1999) - A.R. - p. 15
[8] SACHOT, M. Op. Cit. P. 16
[9] DE LIBERA, A. "L'Occident en quête de sens" (Maisonneuve et Larose, 1996) - A.R. p. 17
[10] CAPELLE, P. "Une nouvelle donne" - Interview - A.R. - p. 22
[11] PADOVANI, U. e CASTAGNOLA, L. "História da Filosofia" - p.250
[12] CAPELLE, P. Op. Cit., p. 22
[13] PADOVANI, U. e CASTAGNOLA, L. Op. Cit., p. 349
[14] MOON, S. M. "Princípio Divino" p. 336
[15] MOON, S. M. Op. Cit., p. 337
[16] MOON, S. M. Ibidem., p. 338
[17] MOON, S. M. Ibidem., p. 339
[18] LACROIX, M. "La Spiritualité totalitaire" (Plon 1995) - A.R p.18


BIBLIOGRAFIA


ACTUALITÉ DES RELIGIONS. Les philosophes et la religion -
N° 41 - Paris: Malesherbes Publications, 2002

MOON, Sun Myung. Princípio Divino. - São Paulo: AESUCM,
1997

PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís. História da
Filosofia. - São Paulo: Melhoramentos, 1977

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